Capítulo 2.
Os resquícios daqueles momentos amargurados haviam desvanecido por completo.
A dor não se deteve naquilo, dificuldades intrínsecas e forasteiras adicionando um novo sabor à vida, que deixariam marcas para sempre.
Já não estava sozinho, dividia uma vida.
E quando dividia uma, quase dividiu a terceira, mas por uma infelicidade do destino, essa ficou pra trás, e doeu. Doeu como nunca imaginara que pudesse doer, sofreu como nunca imaginara que pudesse sofrer, chorou como nunca imaginara que pudesse chorar, não só ele.
Ele e ela, mas viveu, seguiu, viveram, seguiram.
Nunca uma dificuldade o fez parar.
Elas surgiam, pareciam maiores do que verdadeiramente eram, apertavam, subsidiavam a dor e o aperto no estômago, o nó na garganta, companheiros de longa data em uma história que não foi datada.
A vitória parecia ter viajado por uma highway daquelas dos filmes dos anos 60 e 70, a vida parecia mesmo um filme, as vezes comédia, as vezes terror, as vezes aventura, e as vezes amor.
Sua guitarra continuava firme, suas mãos é que tremiam, de ansiedade e avidez por um lugar que nunca tinha estado, mas sentia uma saudade intensa e imensa.
O ano se resumiu em uma perda, se forçou em uma labareda de fogo de amor, que quase apagou, mas ressurgiu e durou, durou mais do que se esperava, em todos os sentidos.
O sonho foi ficou um pouco de lado, um pouco quadrado, um pouco desesperado. Mas o coração ainda ardia forte, e a ânsia de fazer a terra das maravilhas pitorescas da música seca, seguia firme.
Aquele dia parecia um ano todo, e a realidade parecia um sonho estranho, até hoje não se sabe qual a realidade e qual a parte "sonhada", mas sabe-se que ele ressurgiu, assoprou as velas do aniversário de sua dor, passou por cima do carnaval como em todos os anos, e resgatou a força que tinha escondido no lado mais obscuro e fundo da alma.
O humor ácido sumiu, uma luz surgiu e trouxe fé, esperança e realização.
A falta de sono não o abalou, pois o sono faltou, mas construiu a vida, e foi o início de algo mágico.
Seguiu com a vida, o trabalho, o trabalho, o trabalho, o trabalho.
A realização, a realização, a realização, a realização.
Depois de 2 meses, que pareceram 2 anos, tomou café, e se sentiu disposto de novo, reprimiu os fantasmas do passado e seguiu confiante no que já foi realizado.
Não sentia falta dos mesmos, mas da inspiração forçada que eles traziam para o dia a dia, e percebeu que na dor, as palavras fluíam, e quando estava tudo muito bem, as palavras sumiam.
Precisava trazê-las de volta, precisava mantê-las ao seu redor.
Foi quando percebeu, que não bastaria escrever sobre sua vida apenas, devia buscar mais, investir mais, dar vida aos personagens que compartilhara muitas situações e transações intelectuais.
Havia acontecido o que acontece à quase todos, a luta dera espaço ao conforto. Precisava sair de uma zona de conforto que acabara de entrar, para traze-las de volta.
Não importava mais.
Tudo ficou pra trás.
Se diziam não ser possível ser feliz e bom, o céu mudaria de tom, e de cor, e de céu, e de luz.
Como escrever sobre coisas boas e bonitas, esmiuçar o amor e as margaridas?
Os 2 meses-anos que se passaram, foram raros.
O segredo descoberto ficou barato.
A facilidade para a realização foi o novo aparato.
E o sol brilhou dando um novo amparo, à vida.
O melhor ano de sua vida.
O relógio continuava o ameaçando, mas agora de uma forma diferente, mais amena, mais contundente, mais razoável, mais sincera.
O que é importante destacar, é que nada mudou no mundo, o que mudou foi sua própria mente.
Estava altivo, diferente, sua casa ainda é a mesma, sua parceira, a mesma, sua família, projetos, gostos, desejos, os mesmos, seus sonhos, os mesmos, mas diferentes, mais reais, acontecendo pelos finais, atrás da diferença da realidade versus ilusão.
O interessante é que quando se revisita as poesias da dor, elas não vem com a dor em si, mas apenas com a carga artística da dor, pleiteando por um lugar que não é dela.
Havia mais responsabilidades, e mais por vir, mas a capacidade de auto-regeneração física, mental, espiritual e musical, havia seguido para um novo patamar, um patamar de realização plena, nunca visto no plano de vivência habitual.
As evidências dos crimes contra sua própria personalidade e história, deram lugar ao perdão intenso e praticado diariamente, assim como a vivência dos sonhos ilimitados.
Havia seguido, e muito antes do capítulo 3 ou 7, já estava onde queria e como queria.
Mas sabia, no fundo de sua alma, que ainda havia muito a ser feito.
Continua.